O que fizemos com os pastores?

Escrito por Valter Junior.

Posso estar completamente errado, mas me parece que nós igreja, impomos aos nossos pastores uma carga de trabalho tão grande que eles não tem conseguido mais pastorear como gostariam. Assim, quando precisamos do cuidado pastoral, não o temos porque os pastores estão ocupados fazendo o que não se encaixa na atividade do pastoreio. Os pastores tem reuniões, programas de rádio e TV para fazer, aulas para ministrar, obras para fiscalizar, palestras para dar, relatórios a fazer etc. Você acredita que eles poderão cancelar compromissos dessas agendas para atender a uma ovelha que sofre por algo que não seja urgente? Imagine que um pastor deixa de ir a uma reunião administrativa para estar com uma ovelha que está sofrendo. Ele será criticado, pois para quem sofre sempre pode haver um outro horário e oportunidade. Observe a agenda de um pastor hoje em dia e verifique o tempo nela reservado para estar com as ovelhas em sofrimento?

Pode haver pastores que não queiram cuidar ou socorrer ovelhas, mas não falo disso. Deixo aqui um alerta a ovelhas como eu. Creio que nós não temos dado condições aos nossos pastores de se dedicarem como se deve a Palavra e a oração. Os pastores se transformaram em executivos, políticos, administradores, gerentes etc.

Nesse meu tempo de sofrimento e dor Deus me presenteou com a ajuda de dois pastores que fazem por nós menos do que aquilo que gostariam. Mas tem sido um bálsamo para nossas vidas. Um deles não é pastor na igreja em que congrego.

Conheço mais de três centenas de pastores com endereço e telefone. Nada demais para alguém que é cantor evangélico e canta a mais de 17 anos visitando as igrejas.

Dois pastores pela graça de Deus estão tendo condições de nos auxiliar, os demais estão estafados com suas agendas. Naturalmente não espero que todos possam, mas sim que os que queiram, possam.

Conheço outras pessoas que nesse momento estão sofrendo com perdas, doenças, separação etc. Ao falar com elas vejo a mesma frustração quanto ao cuidado pastoral. Elas lamentam não terem o amparo que gostariam e precisam. Me dizem que graças a Deus surgiram outras pessoas para lhes ajudar.

Posso com o que escrevo perder a simpatia de muitos, mas ficar calado me parece um mal maior. Naturalmente minhas palavras podem ser facilmente desqualificadas, pois como atribuir razão a um pai que perde uma filha? Alguém em semelhante situação pode se revoltar contra tudo e todos, se tornar amargo e ingrato. Seria esse o meu caso?

Precisamos urgentemente como igreja dar aos pastores que desejam genuinamente pastorear, as condições ideais para isso. Essa é a parte que nos cabe. Se fizermos isso, os bons pastores poderão ministrar às suas ovelhas, fazendo assim com que lhes falte menos em suas dificuldades.

Quanto aos presbíteros, estes não dão dedicação exclusiva de seu tempo ao ministério e se acham sobrecarregados com seus afazeres rotineiros com o trabalho, estudos e família. Além de tudo isso, precisam encontrar tempo para as atividades relacionadas com o presbiterato. Conheço presbíteros que passam praticamente todas as noites após o trabalho em reuniões na igreja. Quando não são reuniões administrativas, são cultos, cursos, palestras, planejamentos etc. Onde encontrarão tempo para a prática do pastoreio? A maioria dos presbíteros parece estar se dedicando a questões administrativas que já são bastantes para ocuparem todo seu tempo. Nem todos os presbíteros tem procurado se dedicar ao pastoreio das ovelhas junto com os pastores, mas o porquê disso é uma outra questão.

Já os diáconos tem sido vistos e parecem se ver com o ministério de acudir os órfãos e as viúvas, não incluindo o pastoreio. A figura de Estevão nos nossos dias seria censurada por exorbitar em suas atribuições ao pregar o evangelho do reino como fez. Alguém diria que também por isso ele foi apedrejado. No intento de acudir aos necessitados, os diáconos que também não dão dedicação exclusiva de seu tempo padecem de dificuldade semelhante a dos presbíteros. Onde encontrar tempo?

Não precisamos de um relógio agora, mas sim de uma bússola. Precisamos olhar para a Palavra e definir prioridades e tempo para atendermos a cada uma. Queremos e com a graça de Deus podemos mudar essa realidade. Aceita o desafio?