Apesar da dor, preciso prosseguir

Escrito por Valter Junior.

Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para Jerusalém, sem saber o que me acontecerá ali. Só sei que, em todas as cidades, o Espírito Santo me avisa que prisões e sofrimentos me esperam. Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus. (Atos 20:22-24)

Me identifico muito com essas palavras de Paulo.

Não considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus.

Penso assim a muito tempo. O sofrimento presente apenas confirma o que eu já sabia. Quanto mais tempo passo nesse mundo, mais desejo o céu.

Não se trata de desejar morrer. Desejo viver sim, mas apenas o necessário para que se cumpra em minha vida o propósito de Deus.

O que me seduz aqui é passageiro. O que me espera no céu é eterno.

O céu já começou pra nós que fomos alcançados pela graça do Senhor da glória, mas ainda não estamos no céu.

Anunciar e viver o evangelho da graça de Deus se traduz no mais fascinante projeto de vida. Quando o projeto de vida terminar, estaremos com Cristo e teremos sido instrumentos em Suas mãos para que outros tenham conhecido esse mesmo evangelho da graça de Deus.

Tenho a impressão que alguém entrou na loja e trocou todas as etiquetas de preço. Vejo o tempo todo as pessoas valorizando o que não tem valor. As coisas preciosas receberam etiquetas com valores baixíssimos. As coisas vãs receberam etiquetas com valores altos.

Já me iludi muito com isso, mas depois de perder a visão, meu pai e Glaucia, só consigo ver valor em pessoas e no relacionamento com elas.

Para quem me interrompe para dizer que o dinheiro e os bens fazem parte da vida, não me esqueci, apenas dou a eles o lugar que devem merecer como simples objetos que são.

Buscar primeiro o Reino de Deus é saber que o que for necessário para implantação do mesmo, nunca faltará. Ainda que aos olhos humanos pareça que sem dinheiro, poder, influência, rádios, canais de TV e outras coisas, não seja possível fazer a obra que Deus nos confiou na expansão do seu reino.

Tudo que Jesus precisou, teve e na maior parte das vezes tomou emprestado. Afinal, iria usar por pouco tempo, inclusive e principalmente o sepulcro.

Jesus cumpriu seu ministério. Deus me ajude até que eu também possa dizer: - Em suas mãos entrego o meu espírito.

Olho para o meu futuro e não vejo nada. Não tenho planos ou projetos. Quanto ao passado recente, nem preciso olhar. As lembranças são muito vivas. Vivo o presente, mais especificamente o "hoje".

Procuro estar sensível a voz de Deus. Ao ouvir a voz do meu bom pastor, a identificarei e saberei para onde seguir.

Quanto ao que aconteceu com Glaucia, olho para Deus como se estivesse olhando para um grande amigo que caminha comigo. Eu lhe diria: - Estou absolutamente surpreso que você tenha feito isso. Estou sofrendo como nunca imaginei sofrer. Mesmo custando a crer que você fez o que fez, não abro mão de nossa amizade.

É como se um amigo tivesse feito algo terrível pra comigo, mas não consigo deixar de ser seu amigo e de confiar nele.

De fato, quem nos separará do amor de Cristo?

A vida que vivi até esses 41 anos terminou para que eu comece outra. Não será a mesma vida, sem dúvida, pois eu também não sou o mesmo. No que me tornei e o que ainda serei, só Deus o sabe.

Conheço e conheci pessoas que também perderam filhos. Elas me parecem bem, apesar de tudo. A maioria me diz que perdeu o filho ou filha a alguns anos ou meses. Essas pessoas, sem sequer pronunciar palavra, servem de muita esperança para mim. Se elas estão sentindo com menor intensidade a dor da perda, espero em Deus que o mesmo aconteça comigo, pois diante da dor que sinto pela ausência de minha florzinha amarela, afirmo sem medo de errar que as dores de cabeça que me levaram a ficar cego não foram nada se comparadas a dor da perda de Glaucia.

Se quando tive essas dores, não costumava reclamar, imagine agora. As dores da alma são mais cruéis que as dores físicas como podemos ver nos relatos dos salmistas.

Não abri mão de sonhar, mas sim de me iludir. Não quero me enganar. A realidade é dura, mas é melhor viver de acordo com a realidade que me cerca. Sonhos serão ilusão se não forem firmados por aquele que conhece meu coração.

Não deixem de orar por nós. Prossigam ainda. Falem com o único que pode fazer um milagre em nosso coração e transformar nossa dor em algo mais suportável. Falem com Ele. Ele está aqui ao meu lado ouvindo.

Creio que Ele pode ainda usar o que restou de mim, pois nunca dependeu do que sou para fazer qualquer coisa por meio de minha vida