O espírito do natal e o Espírito Santo de Deus
Alguns dirão que a comparação é indevida dada a distância imensa entre os dois. Alguém argumentará que o espírito do natal sequer existe. De fato, para os cristãos genuínos não faz sentido tal distinção. Mas nem todos são cristãos genuínos e nem todos são cristãos.
Por espírito do natal entendo o pensamento predominante e dominante nessa época. Forma de pensar essa que influencia atitudes e modos de agir. Observar o que um e outro motiva pode ilustrar melhor o que desejo.
O espírito do natal impõe que estejamos alegres, que passemos do pranto para o riso como que por magia, que nos alegremos mais do que seria razoável diante das razões para estar feliz. Tal forma de pensar não tolera a idéia de que o sofrimento acomete as pessoas mesmo nessa época, além do fato de que a memória do que não mais existe nessa data é algo difícil de se superar, senão pela fé em Deus e por sua graça.
Assim os que preferem não participar dos festejos não são bem compreendidos ou podem até mesmo serem julgados e condenados. Até que se escreva uma nova memória para substituir as atuais ou antigas de dor, o coração cobrará aquilo do que sente falta.
O Espírito Santo de Deus é o único que produz em nós genuína alegria, fruto de Sua presença. Nos leva a buscarmos nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram, sem querer tornar os alegres mais alegres e sem querer desvalorizar o motivo do pranto daqueles que choram.
Nos leva a liberdade para sorrir e chorar em uma época que nos lembra do júbilo dos anjos e do pranto das mães dos pequeninos mortos por Herodes. Duas realidades tão antagônicas e ao mesmo tempo presentes na história do nascimento de Cristo.
O espírito do natal nos impõe a obrigação pessoal e intransferível de presentear. Mas não de qualquer forma.
Precisamos presentear e com o valor do presente indicar o valor das pessoas presenteadas. O constrangimento é tanto que muitas vezes preferimos dar algo que nos cause um endividamento por sabermos que o presente será dado em público, mas a dívida do financiamento para adquirir o bem
seguirá em privado.
O Espírito Santo de Deus só de habitar em nós já demonstra o quanto somos valiosos para Ele. Não sugere a ideia de dar ou se dar senão por amor. Presentes, se houver, serão sempre símbolos de algo que não se pode materializar. Quando alguém nos ama, seja o que der, virá carregado do seu amor.
Entendemos que melhor é dar que receber, que se sacrificar pelo outro, apesar da dor que isso envolve, vale a pena.
Reconhecemos o real valor que as coisas tem, o que se torna possível de forma mais clara ao percebermos o valor que as pessoas tem. Assim, nos sentimos impulsionados a nos darmos a nós mesmos em vez de darmos algo.
O espírito do natal impõe uma trégua nos conflitos. Hasteia uma bandeira branca e determina que todos esqueçam suas intrigas e rusgas e bebam e comam juntos.Seus filmes, músicas e histórias reforçam isso. Com auxílio da bebida e comida, todos mergulham nessa realidade só possível graças a
um acordo coletivo, consciente ou não, para a paz, o amor e a esperança. Apenas no entanto por algumas horas. Mesmo antes
do ano novo a bandeira branca é recolhida e seguem a vida e os conflitos de onde pararam antes do natal.
O Espírito Santo de Deus transforma de dentro pra fora. Gera em nós uma mudança que pode ser percebida pela presença da paz, alegria, fé, longanimidade, benignidade, domínio próprio e temperança. Algo pra agora com vistas a eternidade com Cristo.Pra quem acha que a fé é uma fuga, pelo contrário.
Na época do natal e em todo o tempo trataremos nossos conflitos, buscaremos o perdão e a reconciliação, motivo pelo qual Cristo veio ao mundo, para reconciliar-nos com Deus. A bebida e a comida serão acessórios, pois um pedaço de pão e um cálice do suco da uva já traduziria tanto.
Muito poderia ainda dizer, mas cito apenas mais um personagem.
O espírito do natal quase se personifica na figura do papai noel. Inofensivo para os adultos, poderoso sobre as crianças. Imagine o que pensará uma criança que nunca viu Jesus ao ver o papai noel descendo do céu em um helicóptero? Você dirá a ela que ele não existe? Que ele não veio do céu? Diga e gaste
o tempo que for necessário para que ela entenda que tudo foi encenação, mas que o que ela não viu, Jesus nascendo, é real.
Nós como igreja estamos sendo mais influenciados por qual espírito? Temos tido a coragem e determinação de falar a verdade sob pena de sermos alvos da ira do Deus moderno do "politicamente correto"? Temos contado e cantado a história de Cristo mais a nós mesmos a cada dezembro ou temos nos
mobilizado para levar essa mensagem a quem não a conhece ou a conhece de forma deturpada?
Resista a tentação de desqualificar as indagações desse texto ao considerar a história de vida de seu autor. Uma verdade será sempre verdade mesmo sendo eu que a diga.
Que o senhor nos ajude, Seu Espírito nos conduza e que você tenha abençoadas celebrações nesses últimos dias de 2010.
P S: Eu e meus textos desagradáveis... Abre o olho igreja!