Imigrante

Escrito por Valter Junior.

Desde que fui a primeira vez aos Estados Unidos para levar meu filho que iria começar seus estudos por lá, pelo fato de que sempre contei com a boa vontade dos nossos irmãos brasileiros para me hospedarem, já que não tinha condições financeiras para pagar um hotel  durante os muitos dias que precisava permanecer, nas muitas conversas que tive com os que me acolheram, me contaram sobre uma realidade que eu não conhecia quanto aos que vão para  os Estados Unidos trabalhar e em muitos casos, passam também a morar.
 
 
No nosso imaginário coletivo brasileiro, associamos esse país a sofisticação, luxo, beleza, êxito, fama e realização. Os muitos filmes americanos, propagandas de produtos, documentários, novelas brasileiras que mostram cenas dos personagens na América  e tantas coisas mais, nos influenciaram e ajudaram muito a que pensemos assim. Dessa forma, se alguém está nos Estados Unidos, pensamos que esta pessoa está muitíssimo bem e que alcançou uma posição que todos gostariam de também alcançar. Quando pensamos nela, a imaginamos em passeios que todos gostariam de fazer, se divertindo na neve, caminhando por cenários paradisíacos e curtindo muito a vida. Pensamos no quanto deve ser maravilhoso ganhar em dólar, falar inglês e ter ao alcance da mão aqueles produtos de marcas famosas por preços tão mais em conta que no Brasil.

Um pouco disso se deve ao fato de que nas redes sociais, os brasileiros que trabalham e moram nos Estados Unidos não postam fotos deles trabalhando o quanto postam fotos passeando por New York, Washington e outros locais que são desejados pontos turísticos.

Se postassem fotos deles trabalhando quase que de domingo adomingo, durante muitas horas diárias, acordando de madrugada e indo dormir bem tarde, sem folgas e tantos feriados como os que temos no Brasil, muitas vezes sem seguro saúde e assistência médica, sob frio intenso por causa das baixas temperaturas, com a  dificuldade do idioma pra quem foi sem conhecê-lo bem, deixando parentes pra trás, deixando a própria família para trás, sofrendo humilhações por causa de sua origem, sofrendo a angústia de estar vivendo ilegalmente, recebendo notícias de parentes doentes no Brasil sem poder visitá-los e tanto mais, não teríamos uma visão tão glamorosa deles.

Os relatos emocionados de quem constituiu família nos Estados Unidos e queria voltar para ver os pais, mas não pode por que se for ao Brasil, corre o risco de não mais poder voltar e ficar então longe da família que constituiu, realmente comove. Conheci casos de pessoas que não puderam voltar para estar ao lado de suas mães que gravemente doentes, vieram a falecer sem que pudessem vê-las. Essas mães pediram aos seus filhos que não voltassem, pois eles as ajudavam em seus tratamentos de saúde e elas sabiam que se eles voltassem, poderiam perder tudo que com muita dificuldade conseguiram, além de fragmentarem a família, se separando de cônjuges e filhos.

Desde a última crise financeira que se abateu sobre os Estados Unidos, os brasileiros que moram e trabalham aqui, dizem que se no passado, podia-se com o que ganhavam constituir uma vida aqui e também investir no Brasil, agora precisam escolher uma coisa ou outra. Ainda há muito desemprego no país e se ganham em dólar, também pagam tudo em dólar. Assim a valorização do dólar com relação ao Real não torna as coisas mais fáceis pra eles.

Muitas Igrejas de brasileiros se viram em dificuldade por causa do grande número de membros que perdeu o emprego, teve os salários reduzidos ou voltou para o Brasil. Essas Igrejas são verdadeiros refúgios para os que, longe da família e amigos, encontram na Igreja quem os apoie, auxilie e acolha. 

Em celebrações como as do natal e ano novo, os vemos em oração agradecendo a Deus pela família da fé que assim se reúne para celebrar, já que se veem longe da família consanguínea.

Os pastores brasileiros nos Estados Unidos se desdobram em muito para cuidar do rebanho do Senhor que tem muitas necessidades que vão além daquilo que faziam quando estavam no Brasil. Os pastores aqui socorrem em tudo os membros, desde levar ao hospital, ajudar no aprendizado do idioma, auxiliar no processo para a obtenção dos documentos de regularização, aquisição de carteira de habilitação, solução de problemas judiciais, aquisição ou aluguel de lugar para morar, orientação sobre como lidar com problemas na família na América e no Brasil, busca por emprego e a lista ainda inclui muitas outras coisas.

Algumas Igrejas ficaram por vários anos sem pastor, pois se de um lado muitos pastores brasileiros desejam pastorear nos Estados Unidos, consideram fazê-lo por curto tempo de modo a terem uma experiência em que possam aprender o idioma e a cultura pra depois regressarem ao Brasil. Esse tipo de proposta não atende às necessidades da Igreja brasileira na América pois o rebanho do Senhor aqui precisa de alguém disposto a se dar e desgastar por amor a eles, sem qualquer propósito prévio de retornar. Precisam de alguém que se identifique com as necessidades deles e que esteja disposto a com eles caminhar o quanto puder, conforme Deus permitir.

Alguns dos nossos irmãos precisaram esperar muitos anos para poderem voltar pela primeira vez ao Brasil. Falam com saudades dos seus irmãos brasileiros e recebem a nós do Brasil com muito carinho.

Como se pode perceber em meu relato, nossos irmãos brasileiros que residem e trabalham nos Estados Unidos merecem muito ser lembrados por nós em nossas orações, pois embora estejam em um país de primeiro mundo, isso por si só não é o suficiente para lhes prover o muito de que necessitam. Oremos a Deus em favor deles pedindo que os ajude e os faça prosperar naquilo para o que foram fazer nessa terra distante do Brasil. Que o Senhor os proteja e livre do mal. Também os preserve saudáveis e os socorra em suas necessidades. Guarde seus entes queridos que estão no Brasil e não lhes deixe em dúvida quanto a se devem ou não permanecer por lá.

Será sempre motivo de alegria ver nossos irmãos aproveitando o curto tempo que possuem para lazer nosEstadosUnidos, mas não deixemos de lembrar que para isso, trabalham e enfrentam dificuldades diárias para sustentarem suas famílias e com muita frequência, ajudarem parentes, pessoas e Igrejas no Brasil e em outros lugares do mundo.

Deus abençoe a Igreja Brasileira que se reúne nos Estados Unidos. Me sinto honrado ao conhecê-los e se não visito muitos monumentos quando vou aos Estados Unidos, sempre volto enriquecido por tudo que aprendi desses que integram esse grande edifício que Deus constituiu, a saber, a sua Igreja.