Sobre nossas reclamações quanto a Igreja que somos

Escrito por Valter Junior.

As conversas entre aqueles que são membros de uma Igreja local quase sempre incluem comentários sobre eventuais descontentamentos quanto à Igreja. Fala-se sobre o que ela faz e não devia fazer, sobre o que deveria fazer e não faz, sobre o que queremos fazer e não nos dão oportunidades e sobre o que não queremos fazer e insistem que façamos.

Isso para não considerar outras possibilidades. Como Igreja sempre estaremos aquém da demanda da sociedade na qual estamos inseridos. Existe muito mais a fazer do que fazemos e podemos fazer. Se estamos empenhando nossos dons e talentos em atividades desenvolvidas pela Igreja de modo a com elas servir o próximo, estejamos contentes.

Se no entanto, a Igreja em que congregamos não está envolvida com uma atividade específica para qual Deus nos deu dons e talentos, em vez de ficarmos eternamente lamentando esse fato, nos empenhemos em oração e ação para sensibilizar a Igreja quanto a essa necessidade.

Enquanto isso não resultar em êxito, e pode ser que nunca alcancemos êxito nisso, nos dediquemos a identificar que organização na cidade precisa do que Deus nos deu. Uma ONG pode estar precisando muito da capacidade que Deus deu a você.

Não se trata de uma reação a inexistência de oportunidades para exercer seus dons na Igreja, mas uma atitude razoável e e sensata. Considerando-se que realmente existe uma necessidade que precisa ser suprida e que esta ainda não foi contemplada pela Igreja local, um dos seus membros pode atuar onde há oportunidade, enquanto na Igreja ainda não há uma ação em desenvolvimento.

Essa forma de ver a realidade na qual estou inserido como Igreja tem me ajudado muito. Cito por exemplo o fato de que congrego em uma mesma Igreja a 14 anos. Desde que nela estou tenho me empenhado para iniciar uma atividade voltada para o ensino de informática para meus colegas deficientes visuais.

Como a Igreja tem uma estrutura pesada, mesmo se demonstrando interessada, até hoje não conseguimos começar algo. No entanto, eu não fiquei refém dessa limitação nossa como Igreja local. A mais de 11 anos dou aulas em ONGs para os meus colegas cegos.

Quando minha Igreja local iniciar um projeto desse tipo, alegremente participarei, mas enquanto isso não acontecer, continuarei orando e atuando no sentido de viabilizar tal iniciativa para o futuro e trabalhando onde precisarem do meu serviço voluntário. Dessa forma, em vez de lamento e reclamações, louvo a Deus pelas oportunidades que Ele me tem dado em diferentes lugares e também por todas as oportunidades que já tenho na Igreja em que congrego. Como Igreja local não conseguiremos atender de forma satisfatória a todas as demandas.

E são muitas. Se pensarmos nas faixas etárias, nas necessidades especiais, nas necessidades sociais e tantas outras, veremos que a seara realmente é grande e são poucos os ceifeiros e que os poucos que se apresentam para a ceifa, nem sempre estão preparados adequadamente para o desafio que se apresenta diante de nós.

Deus nos ajude e faça de nós uma bênção, seja nas atividades já desenvolvidas pela Igreja local ou em outros lugares para onde quiser nos enviar. Como alguém disse no passado, devemos resistir a inclinação de querermos ser sal somente no saleiro.

Portanto, erguei os olhos e vede!